A ESPIRITUALIDADE DE JESUS

Jesus era um camponês que viveu no mundo judeu de visões culturais variadas, em um momento histórico na Palestina do século I. Sociedade marcada por uma religiosidade fundamentada nas escrituras hebraicas e pela cultura grega que configurava o estilo de vida da época. Foi nesse contexto social que Jesus desenvolveu uma espiritualidade própria, introduzindo sua mensagem profética carregada de humanismo urgente (cf. Mt 9,35-36). Uma ordem que desordenava a estrutura social e religiosa de poder existentes na época.

A sociedade idealizada por Jesus era “familiar” e tinha Deus como um pai cheio de amor que olhava para todos como irmãos. Nela não tinha espaço para os fartos da incapacidade de dividir, nem vez para os que discriminavam os mais simples, doentes, deficientes, mulheres e crianças (cf. Mt 18,1-4). Uma sociedade que quebrava honras e desmontava o monopólio da verdade religiosa existente, tida como ‘”código de santidade”, que ordenava tudo, mas distorcia as verdadeiras intenções da Lei de Deus (cf. Mt 16,6-12).

Jesus não quis virar o mundo de “pernas para o ar”, mas coloca-lo do lado certo, mostrando que estava com a verdade e a justiça do seu lado. Era um “fracassado” social, mas que conquistaria êxito e fundamentaria sua mensagem com o propósito de doar sua vida, amando até o fim, até os últimos extremos.

A autoridade de Jesus não era institucional-religiosa que dava aos sacerdotes, anciãos, saduceus e ao sinédrio, poder de direcionar o destino religioso e até social das pessoas (cf. Mt 21,23-27). Jesus ao contrário possuía autoridade de falar por Deus, por cultivar uma intimidade profunda e permanente, conquistada em momentos de reclusão e solidão (cf. Lc 6,12). Assim ele ensinou: “quando orardes, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e o teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á” (Cf. Mt 6,6-13); e mostrou que essa união mística não é uma experiência reservada a alguns, mas a todos que desejam experimentar uma intimidade com Deus e se colocam a serviço do povo, com a clareza de quem deseja falar por Ele. O grande teólogo da espiritualidade Karl Rahner, expressou essa verdade afirmando que “o cristão do futuro ou será um místico, ou deixará de existir”.

A espiritualidade de Jesus também possuía uma dimensão histórica e holística, o que ao mesmo tempo livrava o homem da culpa (do pecado) e o curava (fisicamente), trazendo paz e conforto, produzindo de forma indescritível um alívio para àqueles que se sentiam sobrecarregados e desfavorecidos pelo sistema da época (cf. Mt 9,1-8).

A cura era algo que iria além da culpa e das acusações, pois o respeito pela dignidade de toda pessoa com quem ele se encontrava era ilimitado. Cada indivíduo era único e digno de ser amado, quer essa pessoa fosse um mendigo, cego, epilético, ou um centurião romano. Ele ensinava: - “deixo as 99 ovelhas e vou procurar a que andava perdida” (cf. Lc 15, 3-6). Para Jesus o grau de culpa não importava e si força do perdão, capaz de transforma a vida dos que eram tocados (cf. Mc 10,46-52).

Por fim, a espiritualidade de Jesus deve ser uma prática “nossa” nos dias atuais; um modelo de quem deseja aprender a falar, ler os sinais dos tempos, denunciar e a enfrentar suas consequências com ousadia e fé. Um processo de transformação pessoal e social que nos projeta a viver de forma livre das amarras do egocentrismo presente no mundo. É um “caminho sem percurso”, algo inacabado que necessita de permanentes mutações e que almeja sempre, uma liberdade que não pode existir se estiver atrelada as estruturas limitadas da razão humana.

Wagner Oliveira

Maceió - Alagoas

Consagrado de Aliança da Comunidade Doce Mãe de Deus